quarta-feira, 10 de março de 2010

" A criança é pai do homem."


Chegou atordoado em casa.
Sabia que sua esposa percebera a sua ausência emocional nos últimos meses. Porém, nos últimos dias o cotidiano tinha se tornado insuportável.
A indiferença dele, o silêncio dela, a filha que só desenhava e em seus desenhos as pessoas não possuíam bocas.
Joana tinha apenas seis anos, mas uma grande sensibilidade para perceber que estava em um lar desfeito.
A empregada anunciava o jantar.
O marido preferia doses de uísque, a esposa preferia um chá de camomila e a pequena Joana sentou a mesa sozinha, aliás, colocou duas bonecas nas cadeiras vazias e com elas conseguia ter um jantar agradável.
Os pais não percebiam que a ausência de ambos causava um grande vazio no dia a dia da menina, que estava tendo problemas na escola, por excesso de sensibilidade. Chorava por tudo, e com isso os seus coleguinhas zombavam dela, chamando-a de Maria chorona.
Os pais foram chamados na escola, mas esquivavam-se, ambos se diziam muito ocupados. Ele médico, ela jornalista. Mas tinham tempo livre sim, não queria compartilhar suas frustrações.
A mãe lia o jornal, o pai assistia a um filme, quando Joana falou: Quero ser adotada.
A frase da menina deixou seus pais estupefatos.
- Mas por quê? Indagou a mãe
A menina com a voz mansa e chorosa respondeu:
- Quero morar numa casa onde as pessoas conversem, sorriam se abracem igual na casa das minhas amigas. Cansei de conversar com minhas bonecas, elas também não falam como vocês.
O silêncio da casa estava sufocando os ouvidos da pequena Joana.
A mãe tonta com a situação correu para abraçar a menina, enquanto ela tentava arrumar uma malinha.
- Não faça isso, filha. Pediu a mãe.
- Vou esperar três dias, ta mãe? – Respondeu Joana.

A mãe e o pai sentaram para conversar, uma conversa franca.
No dia seguinte, o pai saiu de casa. Despediu-se da menina, prometendo vê-la em todos os finais de semana.
Semanas depois,uma certa harmonia pairava no ar.
A mãe conversava mais com a filha, almoçavam juntas, jantavam, faziam tarefas escolares, e nos finais de semana o pai de Joana era seu grande companheiro.
A pequena Joana entendeu como a paz é primordial e os pais concluíram que a sapiência infantil é necessária para a falta de coragem dos adultos.

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom.

ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Querida amiga.

Penso que o maior presente que um pai pode dar a um filho
é amar a mãe dele.
Ou vice-versa.
Crianças devem crescer de molho no amor.
Assim serão plenos.
Assim serão felizes.

Que teu coração seja sempre casa de alegria.

Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria

Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria
Isso pra mim é viver!

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Vou usar uma frase do Ferreira Gullar, que me define: " A vida sopra dentro de mim pânica, como a chama de um maçarico, e pode subitamente cessar ".